Eu não sabia o significado de Seus discursos ou de Suas parábolas, até quando Ele não estava mais entre nós.
Mais ainda, eu não compreendi, até que Suas palavras tomaram formas vivas diante de meus olhos, e se transformaram em corpos que caminham na procissão de meus próprios dias.
Deixai-me dizer o seguinte:
Embora soubesse que eles vieram despojar-me de meus bens, eu estava absorto demais no que estava fazendo para enfrentá-los com a espada, ou até mesmo dizer: “O que fazeis aqui?”
E continuei escrevendo minhas recordações do Mestre.
Depois que os ladrões se foram, lembrei-me de Seu dizer: “Aquele que vem para levar vosso manto, deixai que leve vosso outro manto também.”
E compreendi.
Enquanto eu permanecia sentado, registrando Suas palavras, nenhum homem poderia ter-me impedido mesmo que me levasse todas as posses.
Pois, embora desejasse resguardar minhas posses e minha pessoa, eu sei onde está o tesouro maior.
* * *
As palavras inspiradas desse seguidor de Jesus nos fazem pensar sobre os tempos que vivemos na terra.
O que é nosso realmente? O que nos faz possuidores de algo na Terra?
Tudo, por vezes, parece escorrer de nossas mãos tão facilmente!…
É difícil entender a posse, quando falamos dos bens materiais. Tudo aquilo que julgamos possuir, pode, de repente, pertencer a outro, ou a ninguém mais.
Tendo em mente apenas a visão material da vida, temos motivos para a revolta, para a indignação.
Porém sabemos que a vida não é isso, assim como sabemos que nós não somos o corpo de matéria bruta vislumbrado no espelho.
Somos muito mais… Assim como a existência o é.
Desta forma entendemos esta aparente despreocupação do Mestre, em relação ao Seu manto, quando afirmava: Aquele que vem para levar vosso manto, deixai que leve vosso outro manto também.
O manto era algo importante, um bem de necessidade básica, e mesmo assim a visão espiritual da vida diz: É apenas um manto.
Nosso tesouro maior está na alma, e esse ninguém pode arrancar de nós.
As conquistas que fazemos no campo do intelecto, o alcance das virtudes, os amores que cultivamos ao longo do tempo – nada pode ser retirado de nós.
Evitemos assim apego excessivo às posses que o mundo oferece.
Se a violência bater à nossa porta, deixemos que leve tudo, sabendo que nossa dignidade sempre permanecerá intacta.
Nada vale tanto quanto a chance de estar vivo na Terra. Nada vale tanto quanto a convivência com quem amamos.
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